Sim, é verdade! Vou sair. Saio
porque me sinto triste no local onde me deveria sentir feliz, onde esperava
encontrar amizades mas encontro desprezo, onde esperava que fosse a minha casa
e não as minhas masmorras.
Cheguei
porque senti uma necessidade muito forte de fazer algo pelos outros de forma
organizada, mantida no tempo. Senti que precisava dar mais de mim! Não sabia
para onde ir… O Natal soube desta minha vontade e ajudou-me a perceber: vi uma
história no jornal sobre uns guerreiros que estavam sozinhos e sem
Natal-todos-os-dias. Como se fosse o destino a conspirar pouco menos de um mês
depois estava um outro guerreiro a falar-me da sua Batalha, do seu templo… E
convenceu-me… Mas tal como acontece quando quero muito alguma coisa, os duendes
da incerteza que vivem por detrás do meu cabelo fizeram-me pensar, e pensar e
repensar… e demorei cerca de três meses a inscrever-me para as batalhas. Mas fi-lo,
com o coração cheio de esperança e expectativa! Agora penso, talvez os duendes
estivessem certos… Durante muitos meses fiz o caminho desde o outro reino:
carro, barco, metro…metro, barco, carro! E era feliz, e venci medos e venci
tempestades… e pouco a pouco o tempo passou a ser espaço na minha vida… e no
fim tornou-se a minha vida.
Fiz
uma pausa… sim os grandes guerreiros também choram, e também esmorecem e também
sentem-se desistir… da vida. Mas voltei… e voltei com um novo Amor e com uma
nova esperança… agora era uma guerreira com uma missão! E o reino onde havia
chegado há um ano tornou-se a minha casa, a minha família. E mais tempo se
transformou em mais espaço… tanto espaço que deixei de me encontrar… à medida
que o espaço ia entrando na minha vida, eu ia saindo dela. Deixei de me
encontrar (de existir?). Apesar de tudo estava feliz… estaria?
De
repente uma nuvem desceu sobre a minha cabeça. Ouviram-se sinos ao longe a
anunciar a tempestade que estava no caminho. Voltaram os duendes detrás do meu
cabelo. Deveria acreditar? Não sabia… mas os sinos não se calavam e os duendes
levaram-me ao pergaminho… à receita da destruição, que pregava amor, abraços e
planos para o futuro. Um futuro que não era o meu! Um futuro que me deixava de
fora, sozinha, sem saber onde estava (perdi-me quando o “espaço” ocupou a minha
vida), sem saber quem era. Procurei outros guerreiros para amainar a minha
solidão… mas eles decidiram lutar noutra batalha. Nesta altura percebi que
estava sozinha, no que era o meu templo, a minha casa, o meu lugar. Sozinha sem
saber quem sou, ou se sou, eventualmente.
Fui
ficando, fui-me encontrando, fui-me redescobrindo e o “espaço” foi deixando de
ter lugar no meu coração. Fui voltando a ser eu, mas um eu sem outros
guerreiros, sem outras amizades naquele lugar que se tinha tornado a minha casa.
Mas… fui ficando. Os duendes por detrás do meu cabelo continuam a falar, tento
ignorá-los mas já acertaram uma vez! Tento sair… mas sinto-me presa pela
missão, pelo Amor, pela esperança.
Pouco a pouco
comecei a perceber onde estava… não conseguia sair, não tinha visitas, já não
lutava. Eram as minhas masmorras…o local que já tinha sido a minha casa. Sinto-me
mal lá… quero sair, quero fugir! Mais uma vez não tenho guerreiros comigo. Só
os duendes (aqueles que moram por detrás do meu cabelo) e que se foram tornando
os amigos que não tive, que tive e que perdi, que não cheguei a encontrar….
Falo com eles… quero fugir… irei fugir.
Neste
momento ainda me encontro presa no espaço-templo. Ainda sozinha, ainda a
redescobrir quem sou e onde me perdi. Já não tenho tantas amarras e espero
deixar as outras. Os duendes estão aqui comigo, continuam a falar. Não quero
acreditar neles, mas com o tempo foram-se tornando os meus amigos… Já não
acredito no Amor! Perdi-o no espaço-templo-masmorra… Talvez ainda lá esteja,
talvez outro guerreiro o tenha encontrado, talvez ainda seja meu….
Termino
esta missiva, na esperança que o meu Eu leia e que volte para mim! Sabes onde
estou…